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quarta-feira, 8 de julho de 2020

sms

ontem sonhei com você
quis que existisse nós dois

sexta-feira, 24 de julho de 2015

89

Velho e fechado
Com todas as coisas não ditas
Com todas as lembranças não escritas
Em cartões postais
que nunca se soube como foram parar lá
Eu não confesso nada!

Alice - 17h21min

quinta-feira, 9 de julho de 2015

balanço do coma

é como acordar alguns anos depois, cinco ou seis, fingindo ser o que já é, como diz o marcelo; mas sem o distanciamento temporal necessário para perceber as nuances do trajeto: onde se está/onde pretendia chegar. isto seja, a falta de percepção, de si e do meio, o estado de coma.

os livros não lidos, filmes não vistos, o dinheiro que não veio, nem o sucesso com a música, nem a música (enquanto ofício ou talento suficiente pra chamar a mera distração de arte, fuga ou vômito - no melhor sentido da palavra), a velha guitarra com os mesmos defeitos, e uns rabiscos de canções que o tempo não tornou melhor, que ninguém ouviu, ou que sequer foram finalizadas.

no entanto, entre o que era e o que poderia ter sido, até que muita coisa andou pra frente. da parte boa - que a gente anota mentalmente no fim do dia, do ano ou de determinados ciclos - o amor que veio pra ficar, o exercício da criatividade profissional que possibilita encontros, em bares ou salas de aula, com quem transforma o vazio cotidiano em força anti-hegemônica, fazendo filmes pra acertar as contas com o passado, lançando discos sobre a doença-das-grandes-cidades ou escrevendo teses, destruindo muros, físicos e simbólicos, e você ali, bagagem mínima, contando histórias também, caminhando junto, dividindo angústias e esperanças. 

então, até que sobrevivemos bem, apesar das faltas, riscos e perigos: da insegurança que impossibilita à ação, ao excesso, que possibilita a ação, mas depois cobra caro, ao equívoco literal que vira metáfora - entrar no mar agitado sem saber nadar. resumo da vida que nos trouxe até aqui, quase matando, maltratando mesmo, dia após dia, mas nos tornado fortes - sujeitos de sorte. 



segunda-feira, 6 de julho de 2015

sábado/domingo (ou a vida em dez faixas)

e você se sente numa cela escura,
planejando a sua fuga,
cavando o chão com as próprias unhas.



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

teatro da vida

Cena I - padaria tradicional de Copacabana - por volta de 20h30min.

enquanto ele pede um café, ritual frequente dos dias alternados que está por ali, ela, companhia agradável mas inesperada, pra dar sentido a vida, ou para gastar a metáfora, pede somente um pão na chapa. do mais simples e básico encontro, formalizam o início de uma bonita relação. 

numa das três ou quatro mesas disponíveis, teorizam sobre o futuro dela: o teatro enquanto escolha de vida, a produção enquanto meio para não se perder no abismo da interpretação, para continuar sendo alguma coisa antes de todas as possíveis coisas, e criar, para além da representação, a própria representação.

no esforço de quem tem certeza de cada escolha, ela assume os riscos,  mas já colhe bons frutos. satisfação pessoal e algum reconhecimento exterior para compensar o esforço de dividir o tempo entre o trabalho, duas faculdades - uma em cada cidade - a vida e os sonhos.

para ele, difícil mesmo é dividir a atenção entre o que ela diz e o que ela é. do tênis colorido às escolhas simples e corajosas, essa beleza no simples jeito de ser preenche uma série de vazios: de forma e conteúdo.



domingo, 22 de dezembro de 2013

ao lado do poço, algo entre o sonho e o impossível

três ou quatro anos antes e a vida poderia ter sido diferente. você. a possibilidade do certo, o colorido simples pra esse desenho de viver, mas o jeito que encanta, canoniza. de tão bonita, foi se tornando intocável. a canonização da vontade. sobrou o grande poço que estava próximo, com nome, sobrenome e, pra não deixar de dizer, alguma importância substancial, enfim. pra além de pequenas recordações (recortes-especiais-datados, como já dito noutro momento), uma sentença possível: tiro certo, pessoa errada.

engraçado agora você invadir meu sono.

num cenário típico de encontro de velhos conhecidos, eu&você, enquanto a mesa ao lado era dividida por quem colocou no mundo o poço dos últimos anosindiferente aos excessos do acaso, em seus olhos, surpresa e vontade. tão bonita ainda. 

na sinceridade de quem diz o que pensa, quando a palavra não dá conta, o abraço se prolonga pra não precisar de texto. o abraço é o texto. você brinca, dizendo algo engraçado sobre nossas ações, sem se dar conta da importância de cada uma delas. pois é. se você soubesse.

alguém dirá que este sonho vem pra suprir essa necessidade, capítulos que faltaram para uma construção possível, porém perdida no tempo, sem qualquer viabilidade hoje, ou que só existe o sonho, por que ainda existe a vontade. tudo verdade, lógico.

na manhã tardia, acordo pra vida que não deixa de cobrar. mas você continua valendo cada sorriso desta manhã – de um tempo que não volta.


coleção de pequenos erros

antes, a repulsa. depois, a quase dependência. entre uma coisa e outra, fuga e um monte de outras desculpas. fato é que andei errando pelo caminho. contado é engraçado, pra quem não viveu o processo. ao mesmo tempo, ainda entre uma coisa e outra, a descoberta de novas possibilidades, a construção do discurso, os sentimentos, a vivência, os laços que não passam no comercial da tv.

pra pontuar a coleção de pequenos erros: primeiro, o absurdo na forma, a ausência de limite, o acordar sem saber no que consistiu o erro, mas que ele existiu. daí pra frente, culpa e inúmeras tentativas de reparação. estava quase lá, mas ela desistiu primeiro. na tentativa de fazer igual, de errar igual, geralmente o que se faz é pior.

tenta atingir nas ações, mas falha. nas palavras, ela não sabe ainda, mas teve algum êxito. pouco.

desculpa.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

St. Teresa contigo (ou como os dias seriam)

no largo dos guimarães, chegar ao cinema andando, assistir qualquer filme e depois do café caro no cine santa, entrar naquela livraria bonita e quente, que já não lembramos o nome. nos fins-de-semana, cerveja e futebol na tv na rua de baixo, onde aquele senhor, por dois reais, vende os "pastéis mais exóticos da cidade". no largo das neves, a praça e a igreja, que com citações não escritas, remetem as clássicas cidades do interior. finalmente, cruzar o bairro no bonde, no início da noite de um sábado, ou num dia qualquer da semana, de muito sol e de saudades que quase se perdem (quando não se está sozinho) na beleza das paisagens.

terça-feira, 9 de julho de 2013

versículo II - Isaías

23h, no frio da última estação, proteção mútua, ou simples tentativa, escondida nos co[r]pos, pra validar nossa existência. em discussões infundadas e, teoricamente, infrutíferas sobre quem é digno de perdão, simulando capacidade de avaliação crítica, supondo dominar o assunto que desconheço, invento um versículo que justifique o argumento,  a invenção do sentido que (re)significa o olhar, a existência do desconhecido, aprendizado útil, não sobre o perdão, mas sobre busca, escolhas, caminhos, construções duráveis,  registro perpétuo, marca do que fomos, conselho maduro, prova da existência do espaço vazio, tudo que poderemos ser. para gravar na memória, no corpo ou nas páginas que (ainda) serão escritas:

O empobrecido, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não se apodrece; artífice sábio busca, para gravar uma imagem que não se pode mover. 

pontuando novos fins. por espaços divisíveis - que não apodreçam.

[continua]

versículo I - Raduan

na estante, o coração representado nas obras de quem tendo a escrita como forma de vida privilegiou o abandono da função em prol da terra!, lavoura e cólera, repensando o sentido pela construção, forma peculiar de dizer, ausência de pontos, pausas ou parágrafos, forma que valida o conteúdo, anotações sobre a justiça do tempo ou as contradições do amor violento que deixa de ser amor para ser apenas loucura, distância, raiva, decepção/descontentamento, o medo não sei de quê, a revolta com o mínimo. 

[continua]